quarta-feira, abril 28, 2010

10 anos!



Quando eu acordei hoje de manhã, mal acreditei: meu filho completa hoje 10 anos! Uma data histórica para mim, provavelmente mais do que para ele. Há exatos 10 anos Liam nascia em um hospital aqui em Amsterdã. Passamos por períodos difíceis, preocupações de mãe e outras coisas mais...Mas sobrevivemos e estamos bem. E isso é o que importa.

Liam é um menino fascinado por toda sorte de bicho - e não apenas dinossauros, sua primeira grande paixão! Um menino que adora desenhar e desenha muito bem (já está há quase dois anos no Atelier de Pintura do zoológico da cidade). Que sabe muito bem o que fazer com suas centenas de peças LEGO (é um grande construtor com anos de prática, hehehe). E que adora brincar com seu Playmobil Safari, entre outros. Uma criança especial, que como toda criança dá trabalho mas também traz muitas alegrias pra mãe e pro pai dele! Quem tem filho sabe perfeitamente do que estou falando.

Feliz aniversário, meu pequeno príncipe.

segunda-feira, abril 26, 2010

Alguém me explica?

Que tem muita coisa acontecendo na blogosfera e na internet em geral, isso todo mundo tá careca de saber. Só que eu tenho percebido umas coisas pra lá de esquisitas pelas minhas andanças e volta e meia me pergunto: como pode?

Um exemplo são aqueles blogs de gente que escreve mal e tem centenas de seguidores (sério). O mais curioso é que muitas vezes são blogs com pouco mais de um ano de existência. E não, não é inveja - até porque eu gosto de ter seguidores (não vou mentir) mas eu sempre escrevi este blog foi pra mim mesma! Quem me conhece sabe que isso aqui pra mim é acima de tudo uma terapia. E das melhores.

Pois na minha santa ignorância, começo a desconfiar que esta orda de seguidores provavelmente deva muito aos sites sociais frequentados pelos respectivos blogueiros. Ou seja, não se trata de conteúdo e sim de marketing - por favor me corrijam se eu estiver errada! Quanto a mim, como fiquei anos sem orkut, voltei devagar quase parando (quase não uso aquilo ali), não uso o twitter nem tenho tempo ou saco pra Facebook, às vezes tenho a sensação de que peguei o bonde andando. Ou pior, perdi o bonde mesmo! Enfim, tô ficando velha...

Me desculpem a sinceridade, mas continuo tentando entender como blogs com posts medíocres e erros de português esdrúxulos conseguem ter tantos seguidores. E aí tem blogs dos bons (e não me refiro somente a este singelo blog, modéstia à parte) com posts dos mais variados, assuntos inteligentes e poucos seguidores. Alguém por favor me explica este fenômeno? Vai ver é como dizem as más línguas...a internet apenas reflete a realidade, e a mediocridade é mais regra do que exceção neste mundo.

E não, não estou de mal-humor, apenas tenho meus questionamentos. E não são poucos, caros amigos.

quarta-feira, abril 21, 2010

Made in UK


Como boa rata de papelaria, fiquei em êxtase ao esbarrar meses atrás na seção de papelaria e presentes da Paperchase em uma das minhas lojas favoritas de Amsterdã. Sim, os produtos da Paperchase agora podem ser comprados na loja de departamentos Bijenkorf (Dam Square pra quem estiver de passagem por aqui)!

Ontem passei por lá e inevitavelmente voltei a me sentir uma menina de 6 anos no meio de tanta coisa bonita! São cartões, estojos, cadernos de notas, cadernetas de endereços, bolsas, estojos para óculos, canecos, canetinhas e tudo o mais que você pode imaginar. É bem verdade que a maioria das bugigangas vendidas ali é dispensável mas eu não resisto um eye candy pra colorir a vida!

segunda-feira, abril 19, 2010

Gente que escreve bem

O texto abaixo é da blogueira paulista Silmara Franco e foi tirado daqui. Porque tem muita gente escrevendo muita coisa por esta blogosfera mas pouca gente escrevendo tão bem! E sim, suas palavras vestiram como uma luva para mim que nunca fui lá muito certinha. Parafraseando a autora: Levante a mão quem um dia quer ser assim.


Certinho

Há algo de enfadonho e perigoso nas pessoas muito certinhas. Naquelas cuja fala não tem graves nem agudos, só médios. Nas que nunca desafinam, e ficam sem saber dos acordes interessantes que podem existir entre uma dissonância e outra.

Pessoas retas demais, dessas que parecem ter quatro lados idênticos, não encaram uma curva do meio do caminho. Mas também jamais derrapam. O que poderia, de vez em quando, levá-las a lugares inesperadamente bons.

É preciso cuidado com pessoas que nunca gritam. Que jamais arriscam um palavrão. Um bom palavrão na hora certa é bálsamo para o coração em ebulição. Levante a mão quem já foi assim.

Pessoas exageradamente arrumadas são viciadas no ton sur ton. Estão sempre a salvo, protegidas do erro. Contam com a aprovação do bando, mas acabam por se mesclar com qualquer fundo, qualquer estampa. Ficam invisíveis. E como geralmente não lembram onde puseram suas cabeças, precisam de alguém que as ajude a encontrá-las depois.

Dá vontade de suspirar ver sapato combinando com cinto. De desanimar de vez, se bolsa ou gravata entram no arranjo. Quem faz isso destoa é do mundo, incerto e múltiplo por definição.

Não existe graça alguma em quem não quis, ao menos uma vez na vida, morrer de amor. E não pode haver verdade em alguém que nunca contou uma mentirinha sequer.

Deve-se desconfiar de quem tem sala de estar igualzinha à da revista de decoração. De quem não tem pelo menos um armário bagunçado. De quem tem criança e não tem brinquedo espalhado pela casa. De quem faz tudo certo no trabalho. Quem é assim, levante a mão. Se for capaz.

Divertido mesmo é quem divide, provoca, bota pra quebrar. Quem não vibra no uníssono do bom senso comum. Quem ama alto e chora mais alto ainda. Quem faz, todos os dias, alguma coisa de um jeito diferente.

Para ficar mais interessante (desde que não comprometa saúde, segurança ou sentimento dos outros), gente precisa ter, vez por outra, um quê de desatino, uma pitada de desequilíbrio, um desejo de contravenção, uma certa dose de malandragem. Senão, lá na frente, não terá valido a pena.

Agora, vamos lá. Levante a mão quem um dia quer ser assim.



PS. A imagem é pra matar as saudades das bonecas Blythe que há tempos não aparecem por aqui...

sexta-feira, abril 16, 2010

Pra variar


Pra variar a cabeça a mil por hora (pàra que eu quero descer), muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ou então sou eu que vez ou outra não dou conta e surto. Curto-circuito.

No estágio as coisas mudam o tempo todo, uma área de trabalho recente cuja legislação está praticamente em fase de construção. A lei do inburgering é de 2007, sem falar que as leis de imigração mudam regularmente (pra pior claro, fiquem avisados).

A última novidade que (quase) me derrubou é que passei praticamente os últimos 7 meses ajudando os professores na aula (uma espécie de assistente de sala de aula) pra agora sair uma nova lei declarando que apenas professores de língua holandesa para estrangeiros CERTIFICADOS (com as devidas qualificações) poderão continuar em sala de aula. O alvoroço é grande no trabalho, não apenas para estagiárias mais dedicadas como eu, como também os colegas que dão aula. A maioria têm anos de experiência dando aula de holandês mas nenhum certificado oficial...e agora está correndo atrás pra legalizar a situação.

Para mim especificamente, isso significa que tudo que eu fiz nos últimos 7 meses não serviu pra nada - ou pra pouca coisa! Claro que esta afirmação é um tanto exagerada porque no fundo até eu sei que a experiência valeu. Abri novas portas, conheci pessoas diferentes e tive oportunidades de aprender algo novo. E o mais importante, descobri - meio que por acaso - a área em que pretendo trabalhar nos próximos anos (se Deus e as leis humanas permitirem).

Me refiro à área de assistência social, mais especificamente voltada pra educação e orientação de imigrantes. Gosto muito de trabalhar com este povo estrangeiro, por razões óbvias me identifico com algumas de suas trajetórias (leia-se: eu também passei por isso). E não me surpreendo mais ao perceber que os valores e costumes brasileiros estão muito mais próximos dos valores dos marroquinos e turcos do que dos holandeses! A começar pela importância da família. Nessas culturas de imigrante, a família é onde tudo começa e termina. São culturas tradicionais e, em sua maior parte, matriarcais.

Aqui na Holanda é bem diferente. Como em quase toda a Europa, com exceção de Espanha, Portugal e Itália, a família não é um dos valores mais cultivados. Os holandeses valorizam a liberdade de expressão, as ambições pessoais, carreiras profissionais e diplomas. Verdade nua e crua que o imigrante mais cedo ou mais tarde aprende. Aqui vive-se em uma sociedade voltada para o desempenho. Nas escolas, universidades e ambientes de trabalho. Uma sociedade patriarcal, acima de tudo. Tudo é traduzido em produtividade, fatos e números. Sim, vivemos em um sistema capitalista mas não precisa exagerar...

Difícil mesmo é o imigrante conseguir se enquadrar neste rígido sistema, sem falar no fato de serem discriminados na escola e no mercado de trabalho. Sim, porque a discriminação racial aqui é algo assustador, têm dias que olho à minha volta e penso que moro na África do Sul, bairros brancos e bairros negros, escolas brancas e escolas negras, etc. Assunto pra outro post, então vou ficar devendo...porque sim, eu evito falar dessas coisas.

Quanto a mim, a luta continua. Tenho ainda mais dois meses de estágio pela frente e quero fazer o melhor possível para aproveitar este período. Vou continuar dando o melhor de mim mesma, como fiz nestes 7 meses. Porque eu gosto do que faço (ainda estou aprendendo mas já gosto muito) e minha relação com alunas e colegas é excelente. O resto a gente vê como fica depois.



PS. Cá entre nós, cabeça cheia é pouco.

A escola especial

E nem falei nos inúmeros problemas que venho enfrentando com a escola do meu filho. Terça passada teve reunião na escola, depois tive uma conversa de meia-hora com o novo diretor ínterim. Diga-se de passagem, o terceiro em menos de 2 anos.

Como mãe a gente sempre deseja o melhor para os filhos (e eu só tenho um, então já viu). Mas a escola especial onde ele está matriculado há 3 anos tem passado por vários problemas, há cerca de 2 anos. Mudança de diretoria, inspeções de funcionários de educação, novas medidas e planos de ação. Enfim, muita coisa errada e quem sofre com isso, claro, são os alunos. Basta dizer que se dependesse de mim eu teria tirado o meu filho ano passado da escola. Só não tirei porque é preciso autorização para colocar uma criança na escola especial, e autorização pra retirar a criança de lá. Um processo longo e tortuoso, como muitos processos aqui na Holanda.

Só digo que ano passado meu filho teve o azar de cair na pior turma. Uma turma que conseguiu expulsar 4 professoras em 6 meses (uma delas saiu da sala de aula aos prantos). Até a diretora dançou no meio da crise, sem falar que a pedagoga (orientadora) também pediu demissão. Foi muito feio. E até hoje me pergunto como é que pode fazer uma coisa destas: colocar em uma MESMA TURMA crianças com graves distúrbios de comportamento (comportamento agressivo e antissocial) e crianças autistas e outras crianças especiais. Obviamente, quem acaba pagando o pato são as crianças autistas e com distúrbios de atenção. Até polícia deu na escola ano passado, e foram várias visitas. Crianças que saem batendo e destruindo tudo que vem pela frente, aquilo parecia um centro de proteção ao menor abandonado ou instituição juvenil...E os pais dessas crianças são piores, não é à toa que elas apresentam este comportamento. Um quadro inquietante.

Enfim, acabamos de sair de um período muito difícil, felizmente desde setembro Liam tem uma nova turma e a professora é ótima e muito experiente. Ela tem conseguido manter tudo sobre controle e espero que continue assim. Sem falar que finalmente decidiram (antes tarde do que nunca) separar os grupos. Crianças problemáticas numa turma, crianças autistas ou com outros distúrbios emocionais em outra. Até agora tem funcionado.

Não é fácil ser mãe...

terça-feira, abril 13, 2010

Be back soon

segunda-feira, abril 12, 2010

Falando sobre autismo



Abril é mês de conscientização sobre o autismo, um distúrbio de desenvolvimento que afeta muitas crianças e adultos. E como lido com esta questão diariamente, não podia deixar o tema passar em branco.

No caso específico do meu filho, ele frequentou durante 3 anos uma escola normal até que com 7 anos foi decidido que uma escola especial seria melhor para ele (assunto do próximo post, embora eu já tenha comentado por aqui antes). A decisão foi tomada com base em inúmeros testes e observações em sala de aula (e alguma logoterapia). O diagnóstico foi simples, embora longe de dar uma resposta às várias dúvidas dos pais: PDD-NOS (Pervasive Developmental Disorder - Not Otherwise Specified) com um certo grau de autismo. Lembro que lutei muito na época contra a decisão da escola, discuti com as professoras, a pedagoga e até com a diretora...mas de nada adiantou. Tem coisas que a gente não planeja na vida, esta certamente foi uma delas!

Aparentemente meu filho é uma criança normal - tanto que muitos se recusam a acreditar quando digo que ele tem autismo - mas sempre foi aquela criança esquisita no pátio da escola (e em sala de aula). Por anos ele foi fascinado por objetos com rodas, ônibus e trens foram e continuam sendo sua grande paixão. Prefere mil vezes trem a avião e por isso já viajou de trem pra Paris, Londres, Praga, etc. E os trens LEGO são seus brinquedos favoritos. Sim, todo menino gosta de brincar de carrinho mas no caso de uma criança autista é uma obsessão diária ver aquelas rodas girando, girando (veja o menino no vídeo), colocar todos os ônibus numa fila longa, etc. É uma forma de colocar ordem no caos, de ter algum tipo de controle num mundo estranho. De fato, uma das principais características do autismo é a fascinação por objetos e mecanismos. Há pouco ou nenhum interesse em pessoas ou sentimentos.

Eu até hoje noto que Liam nunca fala de pessoas, se está triste ou alegre, etc. Ele também nunca fez aqueles desenhos típicos de criança pequena: mãe, pai, casa, etc. Mas desenha muito bem dinossauros e bichos em geral. Atualmente começou a desenhar dragões, lobisomens e vampiros, rsrsrsrs. Além de desenhar, Liam é uma enciclopédia ambulante sobre dinossauros - uma de suas especializações, como costumo dizer. Também tem conhecimento enciclopédico de alguns animais como baleias e tubarões. Ele coleciona fatos sobre seus interesses e pode falar horas sobre o assunto, quer você esteja interessado ou não! E é capaz de falar até a exaustão, muito além de uma criança normal. Quem convive diariamente com uma criança assim sabe do que estou falando. Se eu deixar, ele acorda e dorme falando de dinossauros (o F. já entendeu e pede logo pra ele mudar de assunto). E claro que na escola já perceberam isso há tempos! Até porque, tem muitas outras crianças como ele por lá.

Enfim, as crianças autistas são diferentes e muito especiais. Elas vivem em um universo diferente do nosso e é preciso paciência - e acima de tudo amor - para entendê-las. Quem tiver interesse no assunto, sugiro a leitura de meus posts antigos com o marcador autismo.



Artigo recomendado (em inglês): top autism facts.

sexta-feira, abril 09, 2010

The Lovely Bones


Para meu desespero, a lista de filmes a serem assistidos aumenta a cada dia mas ao menos consegui assistir The Lovely Bones no fim-de-semana passado...Confesso que tinha um bocado de expectativas quanto ao filme (até porque eu tinha lido o livro e gostado) e como não podia deixar de ser, acabei me decepcionando. Não chega a ser um filme de todo ruim...mas que poderia ter sido muito melhor, isso poderia. A começar porque a estória é bem interessante, sem falar na atuação da jovem protagonista Saoirse Ronan, já conhecida de Atonement (Briony).

Enfim, o filme tinha tudo pra dar certo! Se não deu certo, foi por um simples motivo: excesso de tecnologia, (leia-se: imagens computadorizadas). Tecnologia é ótimo, a gente não pode viver mais sem e blábláblá, mas eu acho que se o diretor Peter Jackson tivesse feito um filme na linha de Heavenly Creatures, o resultado provavelmente teria sido muito melhor! Um filme mais enxuto e intimista, em que a estória é o centro e não uma sequência alucinante de imagens sobrepostas. Sim, porque o filme é quase uma alucinação visual! Nos meus delírios de cinéfila, imagino ainda o que aconteceria se Ang Lee tivesse dirigido este filme...Porque posso imaginar algo na linha de Ice Storm o que, mais uma vez, teria sido muito melhor.

Só sei que as imagens da tela não corresponderam em nada (ou muito pouco) às imagens que eu mesma havia produzido na minha mente durante a leitura do livro. Resumindo: leia o livro e não assista o filme....ou se preferir, assista o filme mas não leia o livro! Quem sabe assim funciona.

quarta-feira, abril 07, 2010

Eu quero!


Tempos atrás descobri o blog da artista gráfica Emily Martin e sempre volto pra me deliciar com os trabalhos dela. Agora vi isso aqui e fiquei morrendo de vontade de ter um quadro destes na minha parede. A ilustração já era há tempos minha favorita, agora então com esta moldura ficou simplesmente irressistível!!! Ainda mais pra quem adora ler, como eu.

Fica a dica pra turma que gosta de ilustrações.

segunda-feira, abril 05, 2010

A gente se acostuma mas não devia


Achei pela net e não podia deixar de dividir este texto maravilhoso da Marina Colasanti com vocês! Eu já conhecia a autora dos meus tempos de Brasil e como ela escreve bem, hein...
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Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.



PS. Na foto, Scarlet Johansson, uma de minhas atrizes favoritos em um de meus filmes favoritos: Lost in Translation.

sábado, abril 03, 2010

Vida de casal, vida de solteira


Ontem à noite estava com este post na cabeça. Então resolvi escrever logo antes que outros pensamentos tomem conta desta mente sempre inquieta. Desde pequena questiono aos outros e a mim mesma, e tenho o (mau) hábito de questionar algumas verdades. O que falta é tempo pra contar por aqui tudo que passa pela minha cabeça...Pensando bem, é melhor assim!

Pois ontem li algo não sei mais onde e pensei: o importante é ser feliz consigo mesmo - sozinha ou acompanhada! A melhor e mais fiel companhia que temos em toda a nossa vida é nós mesmos. Tem gente que foge desta verdade como o diabo da cruz...uma pena, porque no final das contas, não se pode fugir de si mesmo (e quando a gente faz isso, na maioria dos casos acaba mesmo é arrumando sarna pra se coçar, ao estilo antes só do que mal acompanhado).

Eu desconfio que o segredo de ser feliz junto é saber ser feliz sozinho! Foi assim no meu caso, como expliquei aqui. Depois do divórcio, eu fiquei no meu canto quietinha refazendo a vida e colando os cacos (e feliz com a fase solteira). Mas o destino quis mudar meus planos e agora vivo uma vidinha de casal há quase 3 anos, embora a gente não more junto e nem tenha planos de fazê-lo (eu disse que gosto de questionar as verdades, não disse?). Amor é jóia rara de se encontrar, então quando dá certo a gente deixa como está. Melhor não mexer em time que está ganhando, né?

Voltando ao ponto principal o que eu queria dizer é que sei ser feliz sozinha, sim senhor! Tenho interesses o suficiente nesta vida pra não precisar que outro me complete. Ou que outro seja a razão do meu viver. A vida a dois pode ser muita boa (e geralmente tem sido) mas relacionamento dá trabalho e às vezes me pego pensando que viver só é muito mais fácil (e, de certa forma, é mesmo). Manter um relacionamento saudável exige esforços de ambas as partes. Não aqueles esforços hercúleos de cismar de querer o que não pode ser mudado e insistir na furada (isso é assunto pra outro post). Infelizmente, tem casal que se esforça muito pra ficar junto meramente por medo de ficar sozinho. São casais que preferem viver na infelicidade que conhecem do que arriscar uma felicidade desconhecida.

Eu nunca sonhei com príncipe encantado no cavalo branco nem nunca sonhei em casar e ter filhos. E sinceramente, acho que nós mulheres - e isso vale tanto para as solteiras como para as casadas - devemos aprender que não precisamos de ninguém para viver...não precisamos de ninguém para nos dizer como ser feliz e muito menos para completar nossas vidas. Nós somos (ou deveríamos ser) as únicas responsáveis pela nossa própria felicidade. Dividir esta felicidade e plenitude (muitas vezes conquistadas a duras penas) com outra pessoa é diferente de buscar a felicidade no outro. Prefiro acreditar na união de duas pessoas completas do que em uma união de duas metades que se completam...se é que alguém entende onde quero chegar.

Sem falar que mulheres que sabem ser feliz sem um companheiro mais cedo ou mais tarde acabam encontrando companhia, uma daquelas ironias da vida. Porque elas atraem em vez de assustar o possível pretendente...E sim, isso parece artigo de revista feminina mas é assim mesmo. Papo mulherzinha.

Mas agora vou desligar o computador, me vestir e pegar o trem pra passar o fim-de-semana com o namorado, rsrsrsrs. Porque eu gosto da minha solidão mas também sei apreciar a companhia de quem me ama. Enfim, sou feliz sozinha ou acompanhada.
Tecnologia do Blogger.

10 anos!



Quando eu acordei hoje de manhã, mal acreditei: meu filho completa hoje 10 anos! Uma data histórica para mim, provavelmente mais do que para ele. Há exatos 10 anos Liam nascia em um hospital aqui em Amsterdã. Passamos por períodos difíceis, preocupações de mãe e outras coisas mais...Mas sobrevivemos e estamos bem. E isso é o que importa.

Liam é um menino fascinado por toda sorte de bicho - e não apenas dinossauros, sua primeira grande paixão! Um menino que adora desenhar e desenha muito bem (já está há quase dois anos no Atelier de Pintura do zoológico da cidade). Que sabe muito bem o que fazer com suas centenas de peças LEGO (é um grande construtor com anos de prática, hehehe). E que adora brincar com seu Playmobil Safari, entre outros. Uma criança especial, que como toda criança dá trabalho mas também traz muitas alegrias pra mãe e pro pai dele! Quem tem filho sabe perfeitamente do que estou falando.

Feliz aniversário, meu pequeno príncipe.

Alguém me explica?

Que tem muita coisa acontecendo na blogosfera e na internet em geral, isso todo mundo tá careca de saber. Só que eu tenho percebido umas coisas pra lá de esquisitas pelas minhas andanças e volta e meia me pergunto: como pode?

Um exemplo são aqueles blogs de gente que escreve mal e tem centenas de seguidores (sério). O mais curioso é que muitas vezes são blogs com pouco mais de um ano de existência. E não, não é inveja - até porque eu gosto de ter seguidores (não vou mentir) mas eu sempre escrevi este blog foi pra mim mesma! Quem me conhece sabe que isso aqui pra mim é acima de tudo uma terapia. E das melhores.

Pois na minha santa ignorância, começo a desconfiar que esta orda de seguidores provavelmente deva muito aos sites sociais frequentados pelos respectivos blogueiros. Ou seja, não se trata de conteúdo e sim de marketing - por favor me corrijam se eu estiver errada! Quanto a mim, como fiquei anos sem orkut, voltei devagar quase parando (quase não uso aquilo ali), não uso o twitter nem tenho tempo ou saco pra Facebook, às vezes tenho a sensação de que peguei o bonde andando. Ou pior, perdi o bonde mesmo! Enfim, tô ficando velha...

Me desculpem a sinceridade, mas continuo tentando entender como blogs com posts medíocres e erros de português esdrúxulos conseguem ter tantos seguidores. E aí tem blogs dos bons (e não me refiro somente a este singelo blog, modéstia à parte) com posts dos mais variados, assuntos inteligentes e poucos seguidores. Alguém por favor me explica este fenômeno? Vai ver é como dizem as más línguas...a internet apenas reflete a realidade, e a mediocridade é mais regra do que exceção neste mundo.

E não, não estou de mal-humor, apenas tenho meus questionamentos. E não são poucos, caros amigos.

Made in UK


Como boa rata de papelaria, fiquei em êxtase ao esbarrar meses atrás na seção de papelaria e presentes da Paperchase em uma das minhas lojas favoritas de Amsterdã. Sim, os produtos da Paperchase agora podem ser comprados na loja de departamentos Bijenkorf (Dam Square pra quem estiver de passagem por aqui)!

Ontem passei por lá e inevitavelmente voltei a me sentir uma menina de 6 anos no meio de tanta coisa bonita! São cartões, estojos, cadernos de notas, cadernetas de endereços, bolsas, estojos para óculos, canecos, canetinhas e tudo o mais que você pode imaginar. É bem verdade que a maioria das bugigangas vendidas ali é dispensável mas eu não resisto um eye candy pra colorir a vida!

Gente que escreve bem

O texto abaixo é da blogueira paulista Silmara Franco e foi tirado daqui. Porque tem muita gente escrevendo muita coisa por esta blogosfera mas pouca gente escrevendo tão bem! E sim, suas palavras vestiram como uma luva para mim que nunca fui lá muito certinha. Parafraseando a autora: Levante a mão quem um dia quer ser assim.


Certinho

Há algo de enfadonho e perigoso nas pessoas muito certinhas. Naquelas cuja fala não tem graves nem agudos, só médios. Nas que nunca desafinam, e ficam sem saber dos acordes interessantes que podem existir entre uma dissonância e outra.

Pessoas retas demais, dessas que parecem ter quatro lados idênticos, não encaram uma curva do meio do caminho. Mas também jamais derrapam. O que poderia, de vez em quando, levá-las a lugares inesperadamente bons.

É preciso cuidado com pessoas que nunca gritam. Que jamais arriscam um palavrão. Um bom palavrão na hora certa é bálsamo para o coração em ebulição. Levante a mão quem já foi assim.

Pessoas exageradamente arrumadas são viciadas no ton sur ton. Estão sempre a salvo, protegidas do erro. Contam com a aprovação do bando, mas acabam por se mesclar com qualquer fundo, qualquer estampa. Ficam invisíveis. E como geralmente não lembram onde puseram suas cabeças, precisam de alguém que as ajude a encontrá-las depois.

Dá vontade de suspirar ver sapato combinando com cinto. De desanimar de vez, se bolsa ou gravata entram no arranjo. Quem faz isso destoa é do mundo, incerto e múltiplo por definição.

Não existe graça alguma em quem não quis, ao menos uma vez na vida, morrer de amor. E não pode haver verdade em alguém que nunca contou uma mentirinha sequer.

Deve-se desconfiar de quem tem sala de estar igualzinha à da revista de decoração. De quem não tem pelo menos um armário bagunçado. De quem tem criança e não tem brinquedo espalhado pela casa. De quem faz tudo certo no trabalho. Quem é assim, levante a mão. Se for capaz.

Divertido mesmo é quem divide, provoca, bota pra quebrar. Quem não vibra no uníssono do bom senso comum. Quem ama alto e chora mais alto ainda. Quem faz, todos os dias, alguma coisa de um jeito diferente.

Para ficar mais interessante (desde que não comprometa saúde, segurança ou sentimento dos outros), gente precisa ter, vez por outra, um quê de desatino, uma pitada de desequilíbrio, um desejo de contravenção, uma certa dose de malandragem. Senão, lá na frente, não terá valido a pena.

Agora, vamos lá. Levante a mão quem um dia quer ser assim.



PS. A imagem é pra matar as saudades das bonecas Blythe que há tempos não aparecem por aqui...

Pra variar


Pra variar a cabeça a mil por hora (pàra que eu quero descer), muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ou então sou eu que vez ou outra não dou conta e surto. Curto-circuito.

No estágio as coisas mudam o tempo todo, uma área de trabalho recente cuja legislação está praticamente em fase de construção. A lei do inburgering é de 2007, sem falar que as leis de imigração mudam regularmente (pra pior claro, fiquem avisados).

A última novidade que (quase) me derrubou é que passei praticamente os últimos 7 meses ajudando os professores na aula (uma espécie de assistente de sala de aula) pra agora sair uma nova lei declarando que apenas professores de língua holandesa para estrangeiros CERTIFICADOS (com as devidas qualificações) poderão continuar em sala de aula. O alvoroço é grande no trabalho, não apenas para estagiárias mais dedicadas como eu, como também os colegas que dão aula. A maioria têm anos de experiência dando aula de holandês mas nenhum certificado oficial...e agora está correndo atrás pra legalizar a situação.

Para mim especificamente, isso significa que tudo que eu fiz nos últimos 7 meses não serviu pra nada - ou pra pouca coisa! Claro que esta afirmação é um tanto exagerada porque no fundo até eu sei que a experiência valeu. Abri novas portas, conheci pessoas diferentes e tive oportunidades de aprender algo novo. E o mais importante, descobri - meio que por acaso - a área em que pretendo trabalhar nos próximos anos (se Deus e as leis humanas permitirem).

Me refiro à área de assistência social, mais especificamente voltada pra educação e orientação de imigrantes. Gosto muito de trabalhar com este povo estrangeiro, por razões óbvias me identifico com algumas de suas trajetórias (leia-se: eu também passei por isso). E não me surpreendo mais ao perceber que os valores e costumes brasileiros estão muito mais próximos dos valores dos marroquinos e turcos do que dos holandeses! A começar pela importância da família. Nessas culturas de imigrante, a família é onde tudo começa e termina. São culturas tradicionais e, em sua maior parte, matriarcais.

Aqui na Holanda é bem diferente. Como em quase toda a Europa, com exceção de Espanha, Portugal e Itália, a família não é um dos valores mais cultivados. Os holandeses valorizam a liberdade de expressão, as ambições pessoais, carreiras profissionais e diplomas. Verdade nua e crua que o imigrante mais cedo ou mais tarde aprende. Aqui vive-se em uma sociedade voltada para o desempenho. Nas escolas, universidades e ambientes de trabalho. Uma sociedade patriarcal, acima de tudo. Tudo é traduzido em produtividade, fatos e números. Sim, vivemos em um sistema capitalista mas não precisa exagerar...

Difícil mesmo é o imigrante conseguir se enquadrar neste rígido sistema, sem falar no fato de serem discriminados na escola e no mercado de trabalho. Sim, porque a discriminação racial aqui é algo assustador, têm dias que olho à minha volta e penso que moro na África do Sul, bairros brancos e bairros negros, escolas brancas e escolas negras, etc. Assunto pra outro post, então vou ficar devendo...porque sim, eu evito falar dessas coisas.

Quanto a mim, a luta continua. Tenho ainda mais dois meses de estágio pela frente e quero fazer o melhor possível para aproveitar este período. Vou continuar dando o melhor de mim mesma, como fiz nestes 7 meses. Porque eu gosto do que faço (ainda estou aprendendo mas já gosto muito) e minha relação com alunas e colegas é excelente. O resto a gente vê como fica depois.



PS. Cá entre nós, cabeça cheia é pouco.

A escola especial

E nem falei nos inúmeros problemas que venho enfrentando com a escola do meu filho. Terça passada teve reunião na escola, depois tive uma conversa de meia-hora com o novo diretor ínterim. Diga-se de passagem, o terceiro em menos de 2 anos.

Como mãe a gente sempre deseja o melhor para os filhos (e eu só tenho um, então já viu). Mas a escola especial onde ele está matriculado há 3 anos tem passado por vários problemas, há cerca de 2 anos. Mudança de diretoria, inspeções de funcionários de educação, novas medidas e planos de ação. Enfim, muita coisa errada e quem sofre com isso, claro, são os alunos. Basta dizer que se dependesse de mim eu teria tirado o meu filho ano passado da escola. Só não tirei porque é preciso autorização para colocar uma criança na escola especial, e autorização pra retirar a criança de lá. Um processo longo e tortuoso, como muitos processos aqui na Holanda.

Só digo que ano passado meu filho teve o azar de cair na pior turma. Uma turma que conseguiu expulsar 4 professoras em 6 meses (uma delas saiu da sala de aula aos prantos). Até a diretora dançou no meio da crise, sem falar que a pedagoga (orientadora) também pediu demissão. Foi muito feio. E até hoje me pergunto como é que pode fazer uma coisa destas: colocar em uma MESMA TURMA crianças com graves distúrbios de comportamento (comportamento agressivo e antissocial) e crianças autistas e outras crianças especiais. Obviamente, quem acaba pagando o pato são as crianças autistas e com distúrbios de atenção. Até polícia deu na escola ano passado, e foram várias visitas. Crianças que saem batendo e destruindo tudo que vem pela frente, aquilo parecia um centro de proteção ao menor abandonado ou instituição juvenil...E os pais dessas crianças são piores, não é à toa que elas apresentam este comportamento. Um quadro inquietante.

Enfim, acabamos de sair de um período muito difícil, felizmente desde setembro Liam tem uma nova turma e a professora é ótima e muito experiente. Ela tem conseguido manter tudo sobre controle e espero que continue assim. Sem falar que finalmente decidiram (antes tarde do que nunca) separar os grupos. Crianças problemáticas numa turma, crianças autistas ou com outros distúrbios emocionais em outra. Até agora tem funcionado.

Não é fácil ser mãe...

Be back soon

Falando sobre autismo



Abril é mês de conscientização sobre o autismo, um distúrbio de desenvolvimento que afeta muitas crianças e adultos. E como lido com esta questão diariamente, não podia deixar o tema passar em branco.

No caso específico do meu filho, ele frequentou durante 3 anos uma escola normal até que com 7 anos foi decidido que uma escola especial seria melhor para ele (assunto do próximo post, embora eu já tenha comentado por aqui antes). A decisão foi tomada com base em inúmeros testes e observações em sala de aula (e alguma logoterapia). O diagnóstico foi simples, embora longe de dar uma resposta às várias dúvidas dos pais: PDD-NOS (Pervasive Developmental Disorder - Not Otherwise Specified) com um certo grau de autismo. Lembro que lutei muito na época contra a decisão da escola, discuti com as professoras, a pedagoga e até com a diretora...mas de nada adiantou. Tem coisas que a gente não planeja na vida, esta certamente foi uma delas!

Aparentemente meu filho é uma criança normal - tanto que muitos se recusam a acreditar quando digo que ele tem autismo - mas sempre foi aquela criança esquisita no pátio da escola (e em sala de aula). Por anos ele foi fascinado por objetos com rodas, ônibus e trens foram e continuam sendo sua grande paixão. Prefere mil vezes trem a avião e por isso já viajou de trem pra Paris, Londres, Praga, etc. E os trens LEGO são seus brinquedos favoritos. Sim, todo menino gosta de brincar de carrinho mas no caso de uma criança autista é uma obsessão diária ver aquelas rodas girando, girando (veja o menino no vídeo), colocar todos os ônibus numa fila longa, etc. É uma forma de colocar ordem no caos, de ter algum tipo de controle num mundo estranho. De fato, uma das principais características do autismo é a fascinação por objetos e mecanismos. Há pouco ou nenhum interesse em pessoas ou sentimentos.

Eu até hoje noto que Liam nunca fala de pessoas, se está triste ou alegre, etc. Ele também nunca fez aqueles desenhos típicos de criança pequena: mãe, pai, casa, etc. Mas desenha muito bem dinossauros e bichos em geral. Atualmente começou a desenhar dragões, lobisomens e vampiros, rsrsrsrs. Além de desenhar, Liam é uma enciclopédia ambulante sobre dinossauros - uma de suas especializações, como costumo dizer. Também tem conhecimento enciclopédico de alguns animais como baleias e tubarões. Ele coleciona fatos sobre seus interesses e pode falar horas sobre o assunto, quer você esteja interessado ou não! E é capaz de falar até a exaustão, muito além de uma criança normal. Quem convive diariamente com uma criança assim sabe do que estou falando. Se eu deixar, ele acorda e dorme falando de dinossauros (o F. já entendeu e pede logo pra ele mudar de assunto). E claro que na escola já perceberam isso há tempos! Até porque, tem muitas outras crianças como ele por lá.

Enfim, as crianças autistas são diferentes e muito especiais. Elas vivem em um universo diferente do nosso e é preciso paciência - e acima de tudo amor - para entendê-las. Quem tiver interesse no assunto, sugiro a leitura de meus posts antigos com o marcador autismo.



Artigo recomendado (em inglês): top autism facts.

The Lovely Bones


Para meu desespero, a lista de filmes a serem assistidos aumenta a cada dia mas ao menos consegui assistir The Lovely Bones no fim-de-semana passado...Confesso que tinha um bocado de expectativas quanto ao filme (até porque eu tinha lido o livro e gostado) e como não podia deixar de ser, acabei me decepcionando. Não chega a ser um filme de todo ruim...mas que poderia ter sido muito melhor, isso poderia. A começar porque a estória é bem interessante, sem falar na atuação da jovem protagonista Saoirse Ronan, já conhecida de Atonement (Briony).

Enfim, o filme tinha tudo pra dar certo! Se não deu certo, foi por um simples motivo: excesso de tecnologia, (leia-se: imagens computadorizadas). Tecnologia é ótimo, a gente não pode viver mais sem e blábláblá, mas eu acho que se o diretor Peter Jackson tivesse feito um filme na linha de Heavenly Creatures, o resultado provavelmente teria sido muito melhor! Um filme mais enxuto e intimista, em que a estória é o centro e não uma sequência alucinante de imagens sobrepostas. Sim, porque o filme é quase uma alucinação visual! Nos meus delírios de cinéfila, imagino ainda o que aconteceria se Ang Lee tivesse dirigido este filme...Porque posso imaginar algo na linha de Ice Storm o que, mais uma vez, teria sido muito melhor.

Só sei que as imagens da tela não corresponderam em nada (ou muito pouco) às imagens que eu mesma havia produzido na minha mente durante a leitura do livro. Resumindo: leia o livro e não assista o filme....ou se preferir, assista o filme mas não leia o livro! Quem sabe assim funciona.

Eu quero!


Tempos atrás descobri o blog da artista gráfica Emily Martin e sempre volto pra me deliciar com os trabalhos dela. Agora vi isso aqui e fiquei morrendo de vontade de ter um quadro destes na minha parede. A ilustração já era há tempos minha favorita, agora então com esta moldura ficou simplesmente irressistível!!! Ainda mais pra quem adora ler, como eu.

Fica a dica pra turma que gosta de ilustrações.

A gente se acostuma mas não devia


Achei pela net e não podia deixar de dividir este texto maravilhoso da Marina Colasanti com vocês! Eu já conhecia a autora dos meus tempos de Brasil e como ela escreve bem, hein...
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Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.



PS. Na foto, Scarlet Johansson, uma de minhas atrizes favoritos em um de meus filmes favoritos: Lost in Translation.

Vida de casal, vida de solteira


Ontem à noite estava com este post na cabeça. Então resolvi escrever logo antes que outros pensamentos tomem conta desta mente sempre inquieta. Desde pequena questiono aos outros e a mim mesma, e tenho o (mau) hábito de questionar algumas verdades. O que falta é tempo pra contar por aqui tudo que passa pela minha cabeça...Pensando bem, é melhor assim!

Pois ontem li algo não sei mais onde e pensei: o importante é ser feliz consigo mesmo - sozinha ou acompanhada! A melhor e mais fiel companhia que temos em toda a nossa vida é nós mesmos. Tem gente que foge desta verdade como o diabo da cruz...uma pena, porque no final das contas, não se pode fugir de si mesmo (e quando a gente faz isso, na maioria dos casos acaba mesmo é arrumando sarna pra se coçar, ao estilo antes só do que mal acompanhado).

Eu desconfio que o segredo de ser feliz junto é saber ser feliz sozinho! Foi assim no meu caso, como expliquei aqui. Depois do divórcio, eu fiquei no meu canto quietinha refazendo a vida e colando os cacos (e feliz com a fase solteira). Mas o destino quis mudar meus planos e agora vivo uma vidinha de casal há quase 3 anos, embora a gente não more junto e nem tenha planos de fazê-lo (eu disse que gosto de questionar as verdades, não disse?). Amor é jóia rara de se encontrar, então quando dá certo a gente deixa como está. Melhor não mexer em time que está ganhando, né?

Voltando ao ponto principal o que eu queria dizer é que sei ser feliz sozinha, sim senhor! Tenho interesses o suficiente nesta vida pra não precisar que outro me complete. Ou que outro seja a razão do meu viver. A vida a dois pode ser muita boa (e geralmente tem sido) mas relacionamento dá trabalho e às vezes me pego pensando que viver só é muito mais fácil (e, de certa forma, é mesmo). Manter um relacionamento saudável exige esforços de ambas as partes. Não aqueles esforços hercúleos de cismar de querer o que não pode ser mudado e insistir na furada (isso é assunto pra outro post). Infelizmente, tem casal que se esforça muito pra ficar junto meramente por medo de ficar sozinho. São casais que preferem viver na infelicidade que conhecem do que arriscar uma felicidade desconhecida.

Eu nunca sonhei com príncipe encantado no cavalo branco nem nunca sonhei em casar e ter filhos. E sinceramente, acho que nós mulheres - e isso vale tanto para as solteiras como para as casadas - devemos aprender que não precisamos de ninguém para viver...não precisamos de ninguém para nos dizer como ser feliz e muito menos para completar nossas vidas. Nós somos (ou deveríamos ser) as únicas responsáveis pela nossa própria felicidade. Dividir esta felicidade e plenitude (muitas vezes conquistadas a duras penas) com outra pessoa é diferente de buscar a felicidade no outro. Prefiro acreditar na união de duas pessoas completas do que em uma união de duas metades que se completam...se é que alguém entende onde quero chegar.

Sem falar que mulheres que sabem ser feliz sem um companheiro mais cedo ou mais tarde acabam encontrando companhia, uma daquelas ironias da vida. Porque elas atraem em vez de assustar o possível pretendente...E sim, isso parece artigo de revista feminina mas é assim mesmo. Papo mulherzinha.

Mas agora vou desligar o computador, me vestir e pegar o trem pra passar o fim-de-semana com o namorado, rsrsrsrs. Porque eu gosto da minha solidão mas também sei apreciar a companhia de quem me ama. Enfim, sou feliz sozinha ou acompanhada.